Voltando para casa, após mais de uma semana viajando a trabalho, Francisco, o porteiro, um cearense de idade indefinida, que fala pelos “cotovelos”, me recebe com um sorriso quase escancarado e me entrega a correspondência.
- Tudo bem, Chico?
- Comigo tudo... responde sentado atrás de uma grande mesa com tampo de vidro.
Queria que ele tivesse parado por aí, mas o pior chato é o que responde, achando que você quer mesmo saber se está tudo bem. Apressei meus passos na direção do elevador.
- Mas a D. Alzira... Falou alto para que eu ouvisse.
A vontade de subir para o meu apartamento era grande, mas a curiosidade de saber o que acontecera com a mulher “gliptodonte” foi maior.
- O que aconteceu com a D. Alzira? Perguntei, voltando.
- É, foi vingança, doutor. Tomou dois tiros!!! Francisco arregalava os olhos, sem conter o entusiasmo, de fofocar como novidade o caso que todos no prédio já conheciam. Todos menos eu.
Morreu, pensei.- Como assim, Chico??? Saiu o morreu traduzido.
Tentava disfarçar uma antipatia latente que nutria por D. Alzira, aquela figura, que, como síndica, “governava” o prédio como se fosse o seu feudo, e me tratava com um certo ar de desprezo e superioridade, apesar de seu tamanho PP (no sentido vertical, é claro), desde que ousei a discordar dela em minha primeira reunião de condomínio, a sete anos atrás.
- Aquela gangue que invadiu o prédio quis se vingar. Hoje é quinta. Na segunda, ela ia saindo pro Banco, como de costume, às 9:50h da manhã. Aí, um carro preto, que estava estacionado, abriu a janela e deu dois tiros nela!!! Pá!!! Pá!!! atirou Francisco, imitando o revolver com a mão. - Os caras fugiram. Mas o André, da banca de jornal, anotou a placa e avisou a polícia. Eu vi tudinho, tudinho!!! disse com entusiasmo crescente.
- Pegaram os bandidos??? Perguntei mostrando interesse.
- Pegaram sim doutor. Pararam o trânsito na Brigadeiro com a Paulista. Aí, a polícia achou eles e meteu bala. Um morreu, o outro ficou ferido. O que ficou ferido era meio-irmão daquele que D. Alzira matou!!!
- O Moraish!!!
- Mora quem???
- Deixa pra lá... disse eu, disfarçando pra não ter que me explicar.
Vendetta, pensei.
-Me disseram que ele entregou os outros “cumparsa” da gangue...
- Ah é???!!! Senti um calafrio, pensando no ladrão que invadiu meu apartamento e “desfrutou” de minha intimidade escatológica. Será que ele contaria pra polícia detalhes que eu havia omitido???
E já me preparando pra subir, perguntei:- E D. Alzira???
- Ah foi operada e passa bem. Sábado vai ter uma festinha pra volta dela.
- Que bom. Essa daí é indestrutível, né? Falei sem muito entusiasmo. Estava convencido que o único jeito de termos um novo síndico era com a extinção da atual. Claro que não queria que ela morresse de verdade.
- Ah, a D. Odete, do apartamento 51, foi visitar ela. A D. Alzira falou pra ela que fuma desde os dezesseis anos, que fumava escondida do pai. Se o cigarro não matou ela, disse que não vai ser dois “merdinha” desses que vai conseguir matar. Foi ela que disse, doutor. Discursava Francisco, já quase gargalhando. Voava cuspe pra todo lado.
Fiquei enojado e antes de ficar “ensopado” saí com um aceno de despedida.
- Merdinha é esse cigarro incompetente, resmunguei com ironia.
*Vendetta: vingança de sangue das famílias mafiosas.
- Tudo bem, Chico?
- Comigo tudo... responde sentado atrás de uma grande mesa com tampo de vidro.
Queria que ele tivesse parado por aí, mas o pior chato é o que responde, achando que você quer mesmo saber se está tudo bem. Apressei meus passos na direção do elevador.
- Mas a D. Alzira... Falou alto para que eu ouvisse.
A vontade de subir para o meu apartamento era grande, mas a curiosidade de saber o que acontecera com a mulher “gliptodonte” foi maior.
- O que aconteceu com a D. Alzira? Perguntei, voltando.
- É, foi vingança, doutor. Tomou dois tiros!!! Francisco arregalava os olhos, sem conter o entusiasmo, de fofocar como novidade o caso que todos no prédio já conheciam. Todos menos eu.
Morreu, pensei.- Como assim, Chico??? Saiu o morreu traduzido.
Tentava disfarçar uma antipatia latente que nutria por D. Alzira, aquela figura, que, como síndica, “governava” o prédio como se fosse o seu feudo, e me tratava com um certo ar de desprezo e superioridade, apesar de seu tamanho PP (no sentido vertical, é claro), desde que ousei a discordar dela em minha primeira reunião de condomínio, a sete anos atrás.
- Aquela gangue que invadiu o prédio quis se vingar. Hoje é quinta. Na segunda, ela ia saindo pro Banco, como de costume, às 9:50h da manhã. Aí, um carro preto, que estava estacionado, abriu a janela e deu dois tiros nela!!! Pá!!! Pá!!! atirou Francisco, imitando o revolver com a mão. - Os caras fugiram. Mas o André, da banca de jornal, anotou a placa e avisou a polícia. Eu vi tudinho, tudinho!!! disse com entusiasmo crescente.
- Pegaram os bandidos??? Perguntei mostrando interesse.
- Pegaram sim doutor. Pararam o trânsito na Brigadeiro com a Paulista. Aí, a polícia achou eles e meteu bala. Um morreu, o outro ficou ferido. O que ficou ferido era meio-irmão daquele que D. Alzira matou!!!
- O Moraish!!!
- Mora quem???
- Deixa pra lá... disse eu, disfarçando pra não ter que me explicar.
Vendetta, pensei.
-Me disseram que ele entregou os outros “cumparsa” da gangue...
- Ah é???!!! Senti um calafrio, pensando no ladrão que invadiu meu apartamento e “desfrutou” de minha intimidade escatológica. Será que ele contaria pra polícia detalhes que eu havia omitido???
E já me preparando pra subir, perguntei:- E D. Alzira???
- Ah foi operada e passa bem. Sábado vai ter uma festinha pra volta dela.
- Que bom. Essa daí é indestrutível, né? Falei sem muito entusiasmo. Estava convencido que o único jeito de termos um novo síndico era com a extinção da atual. Claro que não queria que ela morresse de verdade.
- Ah, a D. Odete, do apartamento 51, foi visitar ela. A D. Alzira falou pra ela que fuma desde os dezesseis anos, que fumava escondida do pai. Se o cigarro não matou ela, disse que não vai ser dois “merdinha” desses que vai conseguir matar. Foi ela que disse, doutor. Discursava Francisco, já quase gargalhando. Voava cuspe pra todo lado.
Fiquei enojado e antes de ficar “ensopado” saí com um aceno de despedida.
- Merdinha é esse cigarro incompetente, resmunguei com ironia.
*Vendetta: vingança de sangue das famílias mafiosas.