E eles se encontraram pelas redes sociais durante a pandemia.
Engataram uma conversa como se fossem conhecidos de longa data, com muitas risadas, choros e até brigas. Conversavam por horas a fio, sobre livros, cinema, música, culinária, família, passado, presente, futuro, desejo, sexo terreno e sexo dos anjos, Deus, e, claro, pandemia. Tudo via internet.
Por muitos meses foi assim: já acordavam com saudade, conversavam até de madrugada e os assuntos jorravam feito água de uma mina inesgotável. Ela, mais recatada e literal, cheia de regras de conduta e defesas montadas, com um forte ciúme enrustido. Ele, mais “voador", sem muita censura na língua, não raro se arrependia daquilo que tinha dito. Ele, assumidamente apaixonado. Ela, dizendo que não havia possibilidade de paixão sem um encontro presencial.
Até que um dia, com a baixa dos índices de contaminação pelo vírus, os dois devidamente vacinados, resolveram que finalmente era a hora do tão desejado encontro presencial. Com a ansiedade à flor da pele, passaram a semana planejando e idealizando como seria o tão esperado encontro. Combinaram que seria a céu aberto, em uma praça da cidade e durante a semana, por ser menos frequentado, sem aglomeração. Cada um com seu tubinho de álcool em gel e usando máscara, claro.
Chegado o grande dia, eles se avistaram e se aproximaram com um aceno de mãos.
- Oi, eu sou o Zeca! Disse ele, meio sem jeito, sem saber onde por as mãos.
- Eu sei… eu sou a Milla. Respondeu ela, sem descruzar os braços.
Tentaram, por vezes, sem sucesso, quebrar aquele silêncio ensurdecedor, que contrariava todas as expectativas criadas, nos cinco minutos mais longos e angustiantes desde que Deus inventou o Tempo.
- Bom - disse ele - foi bom te encontrar! Até mais!
- Tá bom! Até! respondeu ela .
Após um rápido abraço e um encosto de bochechas com som de beijo, foram embora sem nunca terem tirado as máscaras.
Ansiosos, chegando em casa correram para o computador.
- Oi!!! Já estava com saudades!!! Digitou Zeca.
- Eu tb!!! Muitas!!! Digitou Milla de volta.