quarta-feira, 3 de março de 2010

Amuleto da Sorte

Dia 21 de junho de 1970. Na maternidade São Paulo, da rua Frei Caneca, o som dos radinhos de pilha quebrava o silêncio. Silêncio, que a enfermeira, cuja foto ornava paredes de todos os andares, firmemente recomendava. Radinhos ruidosos, que ninguém ousava mandar desligar.
Na sala dos médicos, a saudosa voz de Geraldo José de Almeida ecoava numa TV preto e branco, conferindo ainda mais emoção àquele que era, sem dúvida, o evento mais marcante presenciado, até então, pelo povo brasileiro, em uma transmissão ao vivo, via satélite. Muito mais do que a ida do homem à Lua, em 20 de julho de 1969, pois quem pisou na Lua foi um homem, Neil Armstrong, mas um homem americano. E naquele momento o jogo transmitido de Guadalajara, no México, era Brasil... Brasil e Itália... Final da Copa do Mundo!!!
Gol!!! O Brasil saiu na frente com uma cabeçada de Pelé, após cruzamento de Rivelino, o “Garoto do Parque”, aos 18 minutos do primeiro tempo. Mas após uma bobeira geral de nossa defesa, sofreu o empate, gol de Bonisegna, quando o cronômetro marcava 37 minutos, ainda do mesmo período.
Fim do primeiro tempo. A tensão era geral e crescente!!!
O único obstetra, provavelmente, que não se espremia, na sala dos médicos, acompanhando o jogo, Dr. Alberto Fargas, era o que realizava o parto em sua paciente, Elizabeth Acosta Bennedetti, neta de uruguaios, minha mãe.
E começa o segundo tempo. Teste para cardíacos!!!
E o tempo passa!!! Quase 20 minutos passados, rápido demais para uns, intermináveis para outros.
De repente: - Gooooooooooooooooooooooooooooooooolll!!! Lindo, lindo, lindo!!!
O Brasil finalmente desempatou com Gérson, “O Canhotinha de Ouro”. Em um chute indefensável no canto esquerdo baixo do goleiro Albertosi.
Junto com o grito de gol de toda nação brasileira, ecoou um outro grito pelo sétimo andar da maternidade: - É um menino!!! Um menino!!! O homem que corria com a bandeira brasileira na mão e gritava, como se ele próprio fosse o autor do gol da virada, era Rafael Mascarenhas Bennedetti, meu pai, que desrespeitando sua tradição familiar paterna, era o mais brasileiro dos italianos.
“Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, do meu coração...”
O gol “errado” de Jairzinho, “O Furacão”, deu mais tranquilidade ao time e aos 90 milhões de brasileiros que acompanhavam a partida. Isso, aos 25 minutos da etapa final. E aos 42 minutos, em uma pintura coletiva, iniciada por um solo de Clodoaldo driblando quatro italianos no meio de campo (o terceiro deles deve ter problemas na coluna até hoje), com direito a arrancada de Jairzinho, pela esquerda, e um passe mágico de Pelé, Carlos Alberto, “O Capitão”, estufa as redes italianas, conferindo números finais ao espetáculo. Brasil 4X1 Itália!!!
No dia seguinte, a foto do rei Pelé, o “Craque Café”, seminu, sendo carregado nos ombros pela torcida mexicana, estampou manchetes de jornais de todo o mundo.
Brasil Tri-Campeão mundial!!!
Meu pai sempre me contou essa história, como se eu e meu nascimento tivéssemos sido decisivos na vitória da “Seleção Canarinho”. Tenho uma foto da época, bebê recém-nascido, no colo de meu pai, enrolado com a bandeira brasileira. Eu tinha sido o grande amuleto da sorte do Brasil!!!

*Os apelidos dos jogadores acima citados, foram criados por Geraldo José de Almeida, e aparecem nessa crônica em homenagem a esse grande narrador esportivo.

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